8 de nov. de 2011

Aula de Amor



Mas, menina, vai com calma
Mais sedução nesse grasne:
Carnalmente eu amo a alma
E com alma eu amo a carne.

Faminto, me queria eu cheio
Não morra o cio com pudor
Amo virtude com traseiro
E no traseiro virtude pôr.

Muita menina sentiu perigo
Desde que o deus no cisne entrou
Foi com gosto ela ao castigo:
O canto do cisne ele não perdoou.



Bertolt Brecht

©


Seios



Teus seios pequeninos que em surdina,
pelas noites de amor, põem-se a cantar,
são dois pássaros brancos que o luar
pousou de leve nessa carne fina.

E sempre que o desejo te alucina,
e brilha com fulgor no teu olhar,
parece que seus seios vão voar
dessa carne cheirosa e purpurina.

Eu, pare tê-los sempre nesta lida,
quisera, com meus beijos, desvairado,
poder vesti-los, através da vida,

para vê-los febris e excitados,
de bicos rijos, ávidos, rasgando
a seda que os trouxesse encarcerados.


Hildo Rangel

©

3 de nov. de 2011

Beijo



Um beijo em lábios é que se demora
e tremem no de abrir-se a dentes línguas
tão penetrantes quanto línguas podem.
Mas beijo é mais. É boca aberta hiante
para de encher-se ao que se mova nela.
E dentes se apertando delicados.
É língua que na boca se agitando
irá de um corpo inteiro descobrir o gosto
e sobretudo o que se oculta em sombras
e nos recantos em cabelos vive.
É beijo tudo o que de lábios seja
quanto de lábios se deseja.


Jorge de Sena


©




31 de out. de 2011

Uma Mulher



Uma mulher caminha nua pelo quarto
é lenta como a luz daquela estrela
é tão secreta uma mulher que ao vê-la
nua no quarto pouco se sabe dela

a cor da pele, dos pêlos, o cabelo
o modo de pisar, algumas marcas
a curva arredondada de suas ancas
a parte onde a carne é mais branca

uma mulher é feita de mistérios
tudo se esconde: os sonhos, as axilas,
a vagina
ela envelhece e esconde uma menina
que permanece onde ela está agora

o homem que descobre uma mulher
será sempre o primeiro a ver a aurora.


Bruna Lombardi


©

Mistério



Sua face é bela, é..., é graciosa
Seus lábios uma flor, uma delícia
Sua pele sedosa, suave como...
Seus cabelos... e longos soltos como pássaros
Cintura, seios, quadris e... como só ela tem
Pés de Anjo e mãos delicadas e ágeis como...
Olhos lindos azuis, verdes ou...?
Suaves inocentes como a brisa no mar
Se dizem francos e clamam a falsidade
Ah! Na noite do... com ela a...
Percebi o prazer angelical do...
Na... leve igual uma... se movendo
Soltou de sua... a sua ingênua...
Trememos de medo de..., nos calamos
Mas sentia o palpitar acelerado de nossos corações
E nossos... exaustos e felizes pelos... que tivemos.


Winston Churchill Teixeira


©


30 de out. de 2011

Sedução


Rubras faces
Rubros lábios
molhados
Caio de joelhos
cai a fina camisola perfumada
Inebriante
mais que o melhor néctar
e sem mais...

Te seduzo!

Abuso,
Lambuzo tudo
com meu arfar molhado
com leite e mel romano
com palavras e defeitos.
Mundano,
Humano...

Te seduzo!

Com carinho.
Delicada porcelana.
te envolvo e te engano.
Há malícia no ar.
A vontade inundando tudo
a nós...
mas ainda não!

Te seduzo!

Seus olhos já não estão em mim.
Estão fechados, adivinhando
meus toques.
Suas mãos suadas
Me conduzindo...
... aprendo seu corpo.

Te seduzo!

Cada pêlo
cada poro,
cada milímetro quadrado
dessa tez morena
implorará por mim
E de repente afundo

Reparo, então
que no fim do fundo
não mais seduzo...
Seduzido me confundo,
com você.


Cláudio de F. Barbosa


©



Homem menos bonito



Não sou interessante,
de estética comum,
sem nenhum compromisso;
se fui, minto, não lembro,
acho que nunca pedi nada de mais,
não aceito amor pequeno,
nada que um bom beijo não cure.

Gosto de amor pleno ao amanhecer,
não uso máscaras nos sonhos,
tenho a alegria estampada no rosto,
às vezes erro as palavras,
não nas intenções,
à luz dos prazeres tem que ser dois,
se persegue valores...me esqueça.

Não sou remédio para suas dores,
nem professor de sua beleza e ética,
minha musculatura é normal,
a perfeita é moldada dentro do peito,
não nos ferros das academias.

Obrigo que se entregue por completo,
quero a companheira segura,
mulher gostosa, vestida ou nua,
que também veja na carne a magia,
me guarda dentro do sexo quente
e que não perca a decadência na cama.

Tenho consciência do amor que dou,
aprendi a respeitar com a paixão,
do meu peito faço moradia,
do corpo nada perfeito dou carinho,
da plástica sem efeito, sei amar.

Gosto de adoecer de paixão,
ter febre, ficar quente, querer beijos,
sem abraços, clamar de traumas,
as neuras ficam à mostra,
o suor frio e a dor só tem um remédio.

Creio no amor, na paixão,
nas loucuras, no tesão,
o desafio de acordar mais cedo
para amanhecer apaixonado,
gosto de ser natural,
fazer amor de luz acesa
é como olhar o infinito.

Sou um homem menos bonito,
não saio ao encalço,
não desenho horizontes,
gosto da fêmea forte,
como água que mata a sede,
aprende e ensina como se faz,
que cola no meu peito o amor que dá.

Não quero mulher bonita por fora,
quero que me compreenda,
por dentro tenha um coração bom,
na hora do orgasmo fale besteiras,
que grite, que urre de tesão,
depois se mostre carinhosa,
que entenda as falhas, as fases.

Por que do bonito ou feio?
O amor é o mesmo,
todos ficam eternos,
de um ou do outro, se ama fica,
no futuro vai lembrar o compromisso,
as noites, os coitos, o gozo,
pode até não entender nada,
se esqueceu, esquece, não amou.

Sou um feio bonito, ou bonito feio?
Tenho o que existe de melhor no amor,
também sinto medo, não sou covarde,
dos segredos que guardo
são das paixões que tenho,
juntos, tento buscar minha felicidade.

Mesmo por estradas menos bonitas,
muitas vezes tão feias quanto eu,
no trilhar, o sol aquece, a luz brilha,
o amor vem e sara minhas dores,
é possível se sentir bonito, não sozinho,
de mãos dadas com quem ama.


Caio Lucas

©

19 de out. de 2011

Doce Essência



Essência da vida,
aroma inebriante,
cheiro provocante e sensual,
perfume de mulher...
Doce gosto do pecado,
toques que seduzem, pele que arrepia,
gestos que induzem aos prazeres da volúpia e da entrega...

Essência da pureza, beleza exótica,
misterioso olhar,
íntimos segredos trancafiados a sete chaves
para que tão somente o escolhido obtenha
a permissão e a satisfação de  desvendar...
Doce e quente sabor, inconfundível,
inexistente,inigualável néctar extraído de seus
poros, de sua intimidade...

Essência do amor, corpos suados, trêmulos, 
insaciáveis, unidos como se fora um só...
Doce e linda visão, perfeição anatômica,
onde cada ponto, cada traço parecem ter 
sido milimétricamente desenhados...
Essência do desejo, bocas vorazes trilham insaciáveis
pelos corpos a busca do prazer extremo atingir...
Doce e delirante momento, corpos entrelaçados,
gemidos e arfares sonoros espalham-se no ar...

Essência do prazer, posições variadas e alternadas 
a procura do gozo e do êxtase...
Doce e eterna sensação, incontroláveis espasmos corporais
traduzem o puro e verdadeiro sentimento de excitação, 
traduzem o significado da palavra tesão...
Essência do carinho, mãos que tocam
delicadamente partes sensíveis, e a cada toque 
contorções frenéticas evoluem...
Doce e maliciosa investida, fortes estocadas
e ardentes contrações saciam o febril desejo
libidinoso de dois sexos...

Essência do erotismo, sussurros e gemidos
incentivam ultrapassar os limites
do possível e do ato rotineiro...
Doce e derradeiro final, corpos estendidos,
olhos cerrados, cheiro inebriante de seivas misturadas, 
sabores ímpares em bocas coladas...
Doce essência do amor, tornando fantasias em realidade
e realidade em fantasias...


José Cardoso


©


Borboleta rubra



Mulher borboleta 
Teu vôo me encanta. 
Cobre-me em cores 
No véu de tua manta. 

Livra-te o casulo 
Te quero tão leda. 
Largada e sensual, 
Envolta em seda. 

Passa na vida. 
Passagem sofrida. 
Vida que muda. 
Mudança empedernida. 

Muda de modo 
Ao rubro em cor. 
Do rastejar em meu leito 
Ao vôo do ardor. 

Novidade na era, 
Na era real. 
Primeira em vera, 
Verdade sensual! 

Mulher borboleta 
Me cobre em tuas asas. 
Guarda em mil flores, 
Amores que abrasas. 

Borboleta em mulher, 
Em vôos te gosto. 
Me prendes em sonhos 
Ao jogo em que aposto. 

Te dou borboleta 
Meu néctar de amor. 
Me dás borboleta 
Teu pólen de flor. 

Enfim borboleta, 
É o amor quem te toma, 
Polinizada pra sempre, 
Do alguém que te ama.


Marcos Woyames de Albuquerque 


©

17 de out. de 2011

Masturbação



Eis o centro do corpo
o nosso centro
onde os dedos escorregam devagar
e logo tornam onde nesse
centro
os dedos esfregam - correm
e voltam sem cessar

e então são os meus
já os teus dedos

e são meus dedos
já a tua boca

que vai sorvendo os lábios
dessa boca
que manipulo - conduzo
pensando em tua boca

Ardência funda
planta em movimento
que trepa e fende fundidas
já no tempo
calando o grito nos pulmões da tarde

E todo o corpo
é esse movimento
que trepa e fende fundidas
já no tempo
calando o grito nos pulmões da tarde

E todo o corpo
é esse movimento
em torno
em volta
no centro desses lábios

que a febre toma
engrossa
e vai cedendo a pouco e pouco
nos dedos e na palma.


Maria Tereza Horta


©


16 de out. de 2011

Silêncios Amorosos



Deixa que eu te ame em silêncio.
Não pergunte, não se explique, deixe
que nossas línguas se toquem, e as bocas
e a pele
falem seus líquidos desejos.
Deixa que eu te ame sem palavras
a não ser aquelas que na lembrança ficarão
pulsando para sempre
como se amor e vida
fossem um discurso
de impronunciáveis emoções.



Affonso Romano de Sant’Anna


©


14 de out. de 2011

Te busco




Te busco

nos momentos incertos

de fome e sede

na hora marcada da vontade

compromisso apenas do querer



busco teus olhos

teu cheiro

tua pele

teu gosto

teu toque



busco tua força

e nela encontro

carinhos, arranhões

apertos

e me entrego...



aos movimentos ritmados

cadenciados, acelerados...

a respiração desordenada



e entre arfãns

sussuros e gemidos

contorções e latejos



a busca

pelo momento máximo

do êxtase e deleite

É quando de ti

Derrama em mim

teu leite...



Ca.


©


O Deslizar




Deslizo 
A sua imagem pelo meu pensamento
O seu cheiro pelo meu sangue
A sua voz, as suas palavras pelo meu desejo

Deslizo
As minhas mãos por entre as suas coxas
A minha boca pelos seus lábios
O meu corpo pelo seu

Deslizo
Tudo o que pode haver no mundo
E que no entanto somos só nós dois
A dançar como imagens oníricas

Deslizar de sonhos
de espaços intermináveis
De amores, paixões incontroláveis
Infinitas

Deslizo
Trêmulo, nervoso pelo meu desejo
De não deixá-la deslizar
Por entre as minhas mãos.


Ricardo R. Almeida

©




Tua vontade



Tua vontade...
de estar dentro de mim...
num momento somente para perder-se assim

O calor invadindo nós dois...
antes, durante e depois

Vontade de sentir o gosto...
do teu corpo no meu...
da tua língua a me conhecer...
sempre, até o amanhecer

Desejo de fazer loucuras...
minhas mãos nuas a te procurar...
minha boca quente sempre a te sugar

De nada mais ouvir...
a não ser nossos gemidos de prazer...
na mais louca vontade de querer

Sinto tua vontade sim...
de fazer amor num pedido...
de ficar em mim escondido

Enquanto entre línguas...
bocas... suores... tremores...
descobertas... eu aberta...
recebendo este gozo latente...
guardado ficará na mente...
para que momentos mais tarde...
você deseje novamente...
iniciar tudo outra vez...
descobrindo coisas que somente a gente fez

Lu@

©


Hoje eu tive você




Hoje eu tive você...
de um modo diferente:
amigo, bonito..
Porém, ardente!

Hoje eu tive você...
de um modo especial:
carinhoso, generoso...
Porém, sensual!

Hoje eu tive você...
de um modo brilhante:
sorridente, contente...
Porém, alucinante!

Hoje eu tive você...
de um modo inusitado:
lindo, benvindo...
Porém, despudorado!

Hoje eu tive você...
de um modo empenhado:
amistoso, gostoso...
Porém, assanhado!

Hoje eu tive você...
de um modo imprevisível:
mágico, sádico...
Porém, inesquecível!

Hoje eu tive você...
de um modo perfeito:
Hoje posso dizer:
Você me pegou de jeito!



Andréa Lucia


©


Sob o chuveiro amar




Sob o chuveiro amar, sabão e beijos,
ou na banheira amar, de água vestidos,
amor escorregante, foge, prende-se,
torna a fugir, água nos olhos, bocas,
dança, navegação, mergulho, chuva,
essa espuma nos ventres, a brancura
triangular do sexo — é água, esperma,
é amor se esvaindo, ou nos tornamos fontes?



Carlos Drummond de Andrade


©

11 de out. de 2011

Meia luz dos corpos - Caio Lucas

Pudor



Só eu posso me despir dos meus anseios

Estar nua refletindo a penumbra da madrugada

Cometer em pensamento quase tudo que dizem ser pecado

E me vestir sozinha quando o primeiro raio de sol

Evaporar meu orvalho tímido e incontrolável

Que adentra umedecendo-me todos os sentidos. 

LARAMARAL

©


9 de out. de 2011

Após o banho, nua




Após o banho, nua 
ainda, o corpo úmido 
ao meu encontro, visão, 
relembro, cálido êxtase, 
os seios entrevistos 
no decote frouxo, agora, nua, 
toalha molhando-se, ressurgem 
após o banho, 
fremindo, suave embalo, avidez 
de língua e mãos, nua, vens, 
perfume, sulcos na pele, 
ansiada espera, curvas, a entrega 
ao meu olhar, bocas, rosa 
túmida, pétala, sucção, espuma, 
resplandeces para mim, nua, 
após o banho.


Fernando Py


©


Sexo






Anoiteceu
Todos se foram
Somos só eu e você
Em um universo só nosso
Ao deitar
Sinto sua respiração na minha face
Minhas mãos passeiam por seu corpo
Sua boca aproximando da minha
Com desejo
Com amor
Com carinho
Com calor
Sem palavras
Apenas gestos
Nada mais é necessário
Quando dois corpos se juntam
É instinto
Um compreende o outro
Descobrindo o que se promove nos demais instantes
As mãos se entrelaçam
Bocas respirando uma na outra
Exalando o que sentem
Transpirando desejos
Respirando tesão
Sussurrando gemidos
Até chegar no topo
O que era vivo
Morre por instantes
A mais erótica e intensa sensação
De amor, de tesão
Querem uma a outra
Por algo que vicia
E minutos depois
O ritual se inicia


Samara Deyse












5 de out. de 2011

Gata






Da brancura da pele e no gesto macio,
A carícia tu tens e a moleza de gata:
O teu andar sutil é doce como a pata
Desse animal pisando um tapete sombrio...

Tens uma morbidez lânguida de sonata.
Teu sorriso é polido, é fino e é muito frio...
Se as tuas mãos acaso eu beijo e acaricio,
Sinto uma sensação esquisita, que mata.

Quando eu tomo esse teu cabelo ondeado e louro,
E o cheiro, e palpo o teu corpo branco e felino,
Como te torces, pois, minha serpente de ouro!

O teu corpo se enrola em meu corpo amoroso,
E o teu beijo me aquece e vibra como um hino,
Animal de voz rouca e gesto silencioso!


Emiliano Perneta


©

A bunda que engraçada




A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.

Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora – murmura a bunda – esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.

A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.

A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.

Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.

A bunda é a bunda,
rebunda.


Carlos Drummond de Andrade

©


2 de out. de 2011

Alex Gopher ~ Quiet Storm




Beijos Molhados





Beijos molhados, lambuzados de orvalho,
minhas mãos em seus seios,
minhas pernas entrelaçadas,
com suas pernas embaralhadas.
A respiração ofegante,
o gosto de vinho, tinto e rascante,
janelas abertas, é tão doce o pecado.

Rasgar sua blusa, libertar os seus seios,
espremê-los de anseios.
O seu ventre suado é chama que aquece.
O seu cheiro, o seu cheiro...
Embriaga e enlouquece.
A lua enxerida espiona, é claro!

Abafar seus gemidos, ocupar os espaços,
é tão forte o abraço.
Olhar nos seus olhos, perceber o delírio,
perceber as narinas dilatadas, desejos...
Deixar gravado em seu corpo
minhas marcas, meu nome;
nos seus ouvidos, segredos,
coisas bem indecentes.

Uma parte de você diz não!
Mas a outra se entrega,
não nega que gosta de me sentir abusado
por todos os cantos e lados.
Pois eu sou o veneno que alimenta o seu corpo,
pois sou eu quem sacia
a sua inquietude tamanha,
pois só assim você sossega,
adormece, sonha e esquece a dor.


NALDOVELHO


©


Affonso Romano de Sant'Anna - Intervalo Amoroso - Definição - Arte Final





Sorvete





Quero servir-me de ti 
Quero sorver-te 
Sorver teu leite 

Quero servir-me a ti 
Quero servir-te 
Servir meu seio 

Quero sentir teu sabor 
Tua seiva, sorver-te 
Quero ser teu sabor 
Meu seio, servir-te 
Quero ser tua serva 
De mim, servir-te 
De ti, servir-me 
Sentir teu leite 
Meu sabor, servir-te 
Teu sabor, sorver-te 
Sorver-te todo 
Seu sabor e arte 
Saborear-te e sorver-te 
Saborear-te feito sorvete!


Andrea Lucia

©


26 de set. de 2011

Corpo de Mulher





Corpo de mulher,
brancas colinas,
coxas brancas,
assemelhas-te ao mundo no teu jeito de entrega.
O meu corpo de lavrador selvagem escava em ti
e faz saltar o filho do mais fundo da terra.
Fui só como um túnel.
De mim fugiam os pássaros,
e em mim a noite forçava a sua invasão poderosa.
Para sobreviver forjei-te como uma arma,
como uma flecha no meu arco,
como uma pedra na minha funda.
Mas desce a hora da vingança,
e eu amo-te.
Corpo de pele, de musgo,
de leite ávido e firme.
Ah, os copos do peito!
Ah, os olhos de ausência!
Ah, as rosas do púbis!
Ah, a tua voz lenta e triste!
Corpo de mulher minha, persistirei na tua graça.
Minha sede,
minha ânsia sem limite,
meu caminho indeciso!
Escuros regos onde a sede eterna continua,
e a fadiga continua,
e a dor infinita.


Pablo Neruda


©


24 de set. de 2011

Afinidade





A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil,
delicado e penetrante dos sentimentos.

O mais independente. 

Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos,
as distâncias, as impossibilidades.
Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação,
o diálogo, a conversa, o afeto, no exato ponto em que foi interrompido.
Afinidade é não haver tempo mediando a vida.


É uma vitória do adivinhado sobre o real.
Do subjetivo sobre o objetivo.
Do permanente sobre o passageiro.
Do básico sobre o superficial.
Ter afinidade é muito raro.


Mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar.
Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois
que as pessoas deixaram de estar juntas.
O que você tem dificuldade de expressar a um não afim, sai simples
e claro diante de alguém com quem você tem afinidade.


Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos
fatos que impressionam, comovem ou mobilizam.
É ficar conversando sem trocar palavra.
É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento.


Afinidade é sentir com.
Nem sentir contra, nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo.
Quanta gente ama loucamente, mas sente contra o ser amado.
Quantos amam e sentem para o ser amado, não para eles próprios.


Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo.
É olhar e perceber.
É mais calar do que falar.
Ou quando é falar, jamais explicar, apenas afirmar.


Afinidade é jamais sentir por.
Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo.
Mas quem sente com, avalia sem se contaminar.
Compreende sem ocupar o lugar do outro.
Aceita para poder questionar.
Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar.


Só entra em relação rica e saudável com o outro,
quem aceita para poder questionar.
Não sei se sou claro: quem aceita para poder questionar,
não nega ao outro a possibilidade de ser o que é, como é, da maneira que é.
E, aceitando-o, aí sim, pode questionar, até duramente, se for o caso.
Isso é afinidade.
Mas o habitual é vermos alguém questionar porque não aceita
o outro como ele é. Por isso, aliás, questiona.
Questionamento de afins, eis a (in)fluência.
Questionamento de não afins, eis a guerra.


A afinidade não precisa do amor. Pode existir com ou sem ele.
Independente dele. A quilômetros de distância.
Na maneira de falar, de escrever, de andar, de respirar.
Há afinidade por pessoas a quem apenas vemos passar,
por vizinhos com quem nunca falamos e de quem nada sabemos.
Há afinidade com pessoas de outros continentes a quem nunca vemos,
veremos ou falaremos.


Quem pode afirmar que, durante o sono, fluidos nossos não saem
para buscar sintomas com pessoas distantes,
com amigos a quem não vemos, com amores latentes,
com irmãos do não vivido?


A afinidade é singular, discreta e independente,
porque não precisa do tempo para existir.
Vinte anos sem ver aquela pessoa com quem se estabeleceu
o vínculo da afinidade!
No dia em que a vir de novo, você vai prosseguir a relação
exatamente do ponto em que parou.
Afinidade é a adivinhação de essências não conhecidas
nem pelas pessoas que as tem.


Por prescindir do tempo e ser a ele superior,
a afinidade vence a morte, porque cada um de nós traz afinidades
ancestrais com a experiência da espécie no inconsciente.
Ela se prolonga nas células dos que nascem de nós,
para encontrar sintonias futuras nas quais estaremos presentes.

Sensível é a afinidade.
É exigente, apenas de que as pessoas evoluam parecido.
Que a erosão, amadurecimento ou aperfeiçoamento sejam do mesmo grau,
porque o que define a afinidade é a sua existência também depois.


Aquele ou aquela de quem você foi tão amigo ou amado, e anos depois
encontra com saudade ou alegria, mas percebe que não vai conseguir
restituir o clima afetivo de antes,
é alguém com quem a afinidade foi temporária.
E afinidade real não é temporária. É supratemporal.
Nada mais doloroso que contemplar afinidade morta,
ou a ilusão de que as vivências daquela época eram afinidade.
A pessoa mudou, transformou-se por outros meios.
A vida passou por ela e fez tempestades, chuvas,
plantios de resultado diverso.


Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças,
é conversar no silêncio, tanto das possibilidades exercidas,
quantos das impossibilidades vividas.


Afinidade é retomar a relação do ponto em que parou,
sem lamentar o tempo da separação.
Porque tempo e separação nunca existiram.
Foram apenas a oportunidade dada (tirada) pela vida,
para que a maturação comum pudesse se dar.
E para que cada pessoa pudesse e possa ser, cada vez mais,
a expressão do outro sob a forma ampliada e
refletida do eu individual aprimorado.


Arthur da Távola

©


23 de set. de 2011

RadioHead - Sensual Kiss

Com Chocolate





Os corpos com sabor de chocolate
na tarde dos segredos desvendados,
brindavam ao açúcar e ao combate
do amor sobre os lençóis amarrotados.

Palavras de silêncios, no resgate
dos beijos esquecidos nos estrados,
que o tempo despertou para o abate
das rimas solitárias... Sóis passados. 

Poética da luz dos novos ventos,
encaixes na perfeita paz do gozo
e os sonhos mergulhados no cremoso

Aroma da canção dos sentimentos.
Hoje, o verso repete em pensamento:
o amor com chocolate é mais gostoso!


Nathan de Castro


©


A camisola negra





Negra,
sobre a pele se faz transparecer.
Negra,
camisola que a mim te mostra.

Pele na pele.
e o desejo posto a nascer.
Deitada à espera, pronta, exposta.

Tecido que cede
O que, então, era amostra,
Agora é entrega!

Início de refrega,
Em luta de amor,
Corpos se doam.

Sensações indomadas!
Reações animais!
Dois seres naturais!
Grunhidos, gemidos!
Eriçados pêlos!

Línguas e dedos.
Tatos e fatos.
Sabores e olfatos.
Gula, ...tesão!

Negra,
a negra pele se perde.
Jogados ao chão...
Nus... corpos nus...
Rolam!
Fome, desejo, paixão!

Carnes quentes,
Desejos ardentes,
Febre fervente,
Louca penetração!

Vira e revira,
Assume nova visão.
Incontida, a carne delira.
Úmida, molhada,
pronta em união.

Entrega, doma, deleita.
Novamente um corpo se deita.
Chama, lambe, toca e afaga,
Faz-se, da noite de amor, a maga.

Deitada no chão à espreita
A transparente negra pele.
Descansa enfim o fervor.
Da sonhada noite de amor!


Marcos Woyames de Albuquerque

©


Vá... se puder!





Vem!
Sopra minha boca,
Dê-me seu ar.
Roçe minha pele,
traçe o caminho,
sinta o eriçar dos sentidos.
Mantenha seus olhos submersos nos meus.
Aspire minha alma e ouça,
o entrecortar da minha respiração.
Prova meu sabor de desejo.
Dissolva-se no universo do meu corpo.
E...
Quando saciado,
Vá...
Se puder!



Glória Salles

©


22 de set. de 2011

Banho





Escorre em mim feito calda,
que é pra lavar minh'alma.

Desliza doce em cada curva,
que eu já tô ficando turva.

Os olhos estão cerrados,
os lábios trancafiados.

Arrepia meus pêlos,
da raiz aos cabelos.

Te atreve!
Me ferve!

Lubrifica meu instinto,
que é selvagem, admito!

Adentra em minhas frestas,
desvenda as minhas arestas.

Escorre pelos meus meios,
ouriça os meus róseos seios.

Deságua em mim feito cascata,
de tanto tesão, me mata!

Mistura teu líquido ao meu,
do teu vapor eu faço breu.

Joga teu jato forte e quente,
serpenteia o pecado iminente.

Escorre em mim tua liquidez.
Me dá um banho de insensatez!


Milene Sarquissiano

©


9 e ½ Semanas de Amor - Cena do Beco Escuro

9 e ½ Semanas de Amor, 1986, que considero um dos filmes mais sensuais até hoje.
Este trecho do filme, a cena do beco escuro, deu origem ao nome do Blog.
Espero que passe pelo Beco Escuro novamente. ;)